“Segunda Opinião” 272- “Mulheres, às Armas”: A série que falou a verdade

Estreada a 29 de setembro de 2014, "Segunda Opinião" é uma rubrica onde todas as semanas é abordado um assunto do mundo televisivo.

Idealizada por Cristina Ferreira, da autoria de Filipa Martins, realização de Patrícia Sequeira e produção da Santa Rita Filmes, “Mulheres, às Armas” é uma minissérie transmitida pela TVI nos dias 11 e 12 de abril.

Em três episódios, a produção “retrata o grito de batalha de uma geração de mulheres que procurou a sua emancipação e lutou por um país mais justo e igualitário, contando a história de heroínas anónimas que merecem ser lembradas e celebradas, como um testemunho do poder da solidariedade feminina e da luta pelos direitos e liberdades fundamentais”, explicou a TVI. A linha temporada da produção situa-se entre 1961 e 1974, na Guerra Colonial Portuguesa, um conflito armado que resultou na formação de movimentos de resistência nas colônias portuguesas em África. “Mulheres, às Armas” toca em assuntos que parecem “do passado”, mas que estão no presente e que merecem ser falados e isso acontece de forma direta e crua nesta produção, que nos mostra a realidade de um país.

O cenário principal da série é uma fábrica têxtil, onde se cruzam Lurdes (Sara Carinhas), Deolinda (Madalena Almeida), Sílvia Chiola (Adília) e Isabel (Victoria Guerra), esta última que representa a alta sociedade. Todas estas personagem carregam camadas que se vão “desfiando” ao longo dos três episódios e que conseguem representar bem várias histórias. Destaco a genialidade da cena (atenção ao spoiler) onde Isabel começa a trabalhar no laboratório e a sua tarefa inicial, tendo os mesmos estudos que os restantes colegas, todos homens, é lavar tubos de ensaio – remete imediatamente para a frase sexista “o lugar da mulher é na cozinha”. O revirar de olhos, mas o engolir em seco quando lhe pedem “um cafezinho” mostram-nos a força de Isabel, uma mulher independente, lutadora e que quer igualdade. Caracterizando as personagens, Lurdes é sindicalizada e interessada por política, é uma mulher que fala e sem medos. Já Deolinda é calma, educada e muito inteligente. Adília, por sua vez, praticamente analfabeta, representa o amor, uma vez que o seu namorado, Armando (Rodrigo Tomás) a desafia a fugir.

As protagonistas de "Mulheres, às Armas" | Foto D.R.

Personagens profundas, bem desenvolvidas e que acrescentam. Para além disso, a escolha do elenco foi muito boa, destaco Ana Brito e Cunha, Dalila Carmo, Fernanda Serrano, Inês Rosado e João Lagarto, que nos brindam com a sua experiência e talento. Ainda a destacar, Rita Rocha Silva e José Condessa, jovens atores que interpretam personagens complexas - Conceição e Vasco, respectivamente - e muito diferentes entre si.

Precisamos de mais “Mulheres, às Armas” na TVI – ou seja, mais séries de época com esta qualidade. Num momento em que o canal atravessa uma crise de audiências, por culpa do desgaste de vários programas, a minissérie trouxe uma lufada de ar fresco e mostrou que a estação “consegue” fazer diferente e bem. Parabéns a todos os envolvidos. As audiências ficaram aquém da qualidade deste produto, que no primeiro episódio, na sexta-feira, marcou 6.3/14%; no segundo, já no sábado, 4.9/10.9% e no último, no mesmo dia, 3.3/10.8%.

Termino com um lembrete. As mulheres de hoje, em Portugal e um pouco por todo o mundo, ainda lutam pela igualdade, pela valorização e pelo respeito. Que sejamos todos mais atentos a quem está ao nosso lado e que consigamos "dar as mãos" para tornar o mundo um lugar mais justo.

Por: Filipe Vilhena



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