"Segunda Opinião" #257- "Papel Principal": Óbito declarado
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Estreou a 25 de setembro e prometia (como todos os programas
das privadas) revolucionar a televisão em Portugal. “Papel Principal” dizia ter
uma história diferente, leve e o objetivo era derrubar “Festa é Festa”, da TVI.
Depois de uma novela com três gémeas, quem diria que a SIC
conseguia piorar. “Sangue Oculto” transformou-se numa obra de arte da ficção
quando a sua sucessora estreou. “Papel Principal” fala do teatro, da revista à
portuguesa e da luta pelo protagonismo. Uma heroína pouco interessante, a
Aurora (Carolina Carvalho), um galã pouco interessante, o Fred (Ângelo Rodrigues), e uma vilã, a Lúcia (Margarida Vila-Nova), só porque há sempre uma pessoa muito
má, estão em destaque na novela. A história pretendia juntar os bastidores das
artes, como “Alma e Coração” (2018) e “Amor Amor” (2021), e uma parte mais
cómica, apelando ao que a TVI oferece com “Festa é Festa”. Tudo isto resultou
em confusão e numa história “oca”, que não prendeu os portugueses. “Papel
Principal” é, talvez, a novela mais rejeitada nos últimos anos.
Para começar, há que dizer que nenhum dos atores é mau.
Contudo, é inegável que Carolina Carvalho e Ângelo Rodrigues não têm química
enquanto casal principal. Não houve conexão do público com a sua história e,
muito menos, conexão entre estes atores para formarem um casal. Margarida
Vila-Nova, excelente atriz, sai desvalorizada com este papel de má, muito má.
Mafalda Vilhena, Victoria Guerra, Marco D’ Almeida, Noémia Costa e Patrícia Tavares
são alguns dos nomes que compõem este elenco e que poderiam ter melhores
personagens. É uma pena a SIC ter juntado um excelente elenco num argumento
fraco.
"Papel Principal" é emitida após o "Jornal da Noite" | Foto D.R. |
Devido às fracas audiências, pensou-se mudar cenas, reajustar equipas e matar a personagem de Ângelo Rodrigues, assim como colocar Margarida Vila-Nova como protagonista. Aqui vemos que a SIC reconheceu o problema do núcleo principal. Se não existe nem uma história, nem química no elenco principal, o produto morre. Daniel Oliveira decidiu, por fim, cancelar a novela e rezar para que a SIC continue a vencer na média diária a TVI, mesmo com o “buraco” que “Papel Principal” causa. O “Jornal da Noite” foi esticado ao máximo e a trama, mesmo assim, consegue perder em alguns dias para “Joker”. Seria interessante a RTP1 ter no ar “Pôr do Sol”, porque iríamos ver, provavelmente, uma novela satirizada a vencer a uma novela “a sério”. Podemos assumir o óbito de “Papel Principal”? Que descanse em paz, ao lado de “Lua de Mel”, que ainda conseguiu ter um bocadinho mais de sucesso.
Não se entende porque a SIC, que tanto gosta de trocar horários
de novelas, não testou “Flor sem Tempo” na primeira linha e passou “Papel
Principal” para papel secundário no horário nobre. Sabemos que a primeira não
teve grande força inicialmente, mas talvez conseguisse melhores valores do que
a história de Aurora. Talvez com a troca, e utilizando a estratégia de “colar” “Flor
sem Tempo” a “Papel Principal”, encurtando os seus episódios, o canal 3
conseguisse alguma glória. A liderança seria difícil, mas subir os números
ajudaria a média final da SIC a manter-se mais sólida.
Normalmente termino a “Segunda Opinião” a falar de
audiências, mas no caso de “Papel Principal” não vale a pena. Já perceberam que
são muito baixas, certo? Por vezes, a novela fica com pouco mais de 400 mil
espectadores. Mais cinco meses e a RTP2 ganha a SIC em horário nobre. Esperemos
que “Mar Aberto” traga boas marés à SIC, que tem a vantagem de “Festa é Festa”
estar a baixar as audiências e a ficar desgastada.
Por: Filipe Vilhena
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