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"Segunda Opinião" #190- Nem amor, nem festa! A ficção portuguesa está em queda

Estreada a 29 de setembro de 2014, "Segunda Opinião" é uma rubrica onde todas as semanas é abordado um assunto do mundo televisivo.
 

Depois de um verão onde o consumo televisivo é naturalmente mais baixo em termos de audiências para os nossos canais, chegamos ao outono, onde (até aqui) os números 'melhoram'. Contudo, este ano a tendência parece ter-se alterado e o horário nobre de segunda a sexta (e também aos domingos, mas deixemos o tema para depois) tem estado com péssimas audiências.

Mas o que são 'péssimas audiências'? A SIC e a TVI emitem ficção durante todo o horário nobre e, durante a maioria dos dias, as principais novelas estão abaixo do milhão de espectadores. A perda de telespectadores para outras plataformas, como o cabo e streaming, já se tornou uma realidade, mas esta queda abrupta só mostra que os canais não estão no caminho certo. Se recuarmos cerca de dois anos e meio nas audiências, mesmo com uma disputa enorme, as privadas conseguiam números bem acima do milhão de espectadores. Até mesmo no segundo horário, a SIC atingia números acima do milhão. Contudo, nem o primeiro período do horário nobre consegue e esse feito e as novelas "Amor Amor" e "Festa é Festa", da SIC e TVI, respectivamente, mostram-se apostas falhadas.

As novelas são agora feitas em temporadas, o que nunca fez sentido. Em 2014, "A Única Mulher" 'inaugurou' esse feito e nunca mais o conceito foi abandonado. Não faz sentido uma novela ter temporadas, isso é um desígnio que pertence a uma série. As tramas são partidas ao meio, prolongadas, renovadas, mudam o elenco, os cenários e pensam que dessa forma atraem os portugueses. Já se percebeu que não. O publico está cansado de tanta coisa a acontecer na mesma novela ao mesmo tempo. É tanta confusão que, muitas vezes, nem dá para acompanhar. 

A juntar a isto, as histórias são cada vez mais repetitivas. Tanto a SIC como a TVI apostam em muito na história dos filhos perdidos e adotados. O tema parece ter começado a 'ficar na moda' com "Dancin' Days" em 2013 e foi por ali adiante. Muitas vezes, as personagens dadas aos atores são muito padrão, por norma ricas sem grande motivo (ou tem uma herdade ou são médicos) e com um discurso tão cansativo que perde o interesse. Os nomes para as novelas tem sido mais diversificados, é verdade, mas ainda assim, há atores muito vincados a determinados papeis. 

Joana Santos, Ricardo Pereira e Maria João Bastos em "Amor Amor" | Foto D.R.

Falando em especial nas duas novelas principais, estas marcam talvez o início de um novo tipo de ficção. "Amor Amor" e "Festa é Festa" são tipos de novela mais simples, com uma história leve e, mais no caso da TVI, um diálogo que puxa para o humor. São produtos que resultaram nos primeiros episódios, mas que na segunda temporada não se conseguem impor. E porquê? Porque é mais do mesmo. Repetem-se acontecimentos, cenas sem sentido, diálogos para encher 'chouriços' e por ai vamos. Não fazia sentido estes produtos continuarem, mas os canais privados fazem questão de espremer o produto até que este continue e dar audiências, estragando muitas vezes o bom trabalho. "Quer o Destino" foi uma novela mais curta, que só teve o aumento de 60 episódios (segundo algumas revistas) e, a par de ter sido nomeada para um Emmy, acabou por ser um sucesso de audiências. 

No caso de "Festa é Festa", poderíamos até ter um aumento de episódios se, de facto, a trama fosse emitida em formato série - tal como "Bem-vindos a Beirais". Contudo, o tempo de antena de cerca de 1 hora de segunda a sábado, ajuda ao desgaste do produto. Fazer esta trama em formato série, com cerca de 30 minutos de episódio e só a transmitir de segunda a sexta, poderia ser a alavanca que faltava para "Festa é Festa" ser os 'Beirais' da TVI em termos de sucesso. Para além disso, deixar de lado as emissões especiais em programas como "Em Família" ou "Somos Portugal", onde falam 5 horas do produto. 

A televisão precisa de mudanças. A ficção precisa de mudanças. As audiências mostram que o público vai procurando outras ofertas e, um espectador que comece a ver séries na Netflix ou outra plataforma, será mais difícil de voltar a conquistar. É certo que após o final destas novelas, as audiências subam, mas este período negro no horário nobre ficará na história da SIC e TVI. As apostas são agora "Como uma Onda" (SIC) e "Quero é Viver" (TVI). Veremos. 

Por: Filipe Vilhena

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