"Segunda Opinião" #255- “Em Família”: O fim do programa de sábado?
Estreada a 29 de setembro de 2014, "Segunda Opinião" é uma rubrica onde todas as semanas é abordado um assunto do mundo televisivo. |
O “Em Família” estreou na TVI em 2020, em plena pandemia, para ocupar o período das tardes de sábado e fazer companhia os espectadores confinados. Na altura, o formato era apresentado por Cristina Ferreira e Manuel Luís Goucha, marcando excelentes resultados, fruto também do facto de quase todos estarmos em casa.
Aos poucos, quase sem nos apercebermos, Maria Cerqueira Gomes e Ruben Rua foram-se “ocupando” do programa, inicialmente sempre com um terceiro elemento na apresentação, e mais tarde apenas em dupla. A “Segunda Opinião” já debateu muito o formato, talvez seja o mais comentado das mais de 200 edições. Nas análises feitas, falou-se da química da dupla, onde foi defendido que tinham espaço para crescer. Falou-se ainda do conteúdo do programa, que inicialmente fazia sentido na televisão, mas, em edições mais recentes, foi defendido que o “Em Família” estava a chegar a um ponto de saturação. E é precisamente disso que se volta a falar, uma vez que as audiências gritam “chega” e quem assiste o programa com atenção percebe o que se passa.Para escrever este artigo, o programa foi visto e revisto durante várias semanas, do início ao fim. E é muito cansativo assistir ao “Em Família”. Para começar, e mudando de opinião em relação ao defendido inicialmente, a química da dupla não está assim tão melhor. Ruben Rua continua o seu passeio pelas intervenções sem nexo e Maria Cerqueira Gomes não sabe, por vezes, que convidados tem à sua frente. É uma confusão total: entradas em falso – recentemente anunciaram um convidado e apareceu o Zé Lopes, isto logo no início da emissão; nomes trocados, conversas vazias e brincadeiras desconfortáveis dos anfitriões, que muitas vezes apenas têm convidados para enriquecer o cenário. Infelizmente (e posso vir daqui a um ano dizer o contrário) Maria Cerqueira Gomes e Ruben Rua não formam uma boa dupla. Quem assiste às excelentes entrevistas da anfitriã no "Conta-me", fica em choque com a sua falta de preparação e os seus risos histéricos no “Em Família”. Quanto a Ruben Rua, é hora de perceber que daytime não é a sua praia. Talvez noutro registo se conseguisse “safar” melhor (tenho dúvidas), mas aqui não. Quando o apresentador, que faz este programa há três anos, demora meia hora para fazer uma questão, toda ela confusa, sabemos que não é o caminho. E isto é algo que escrevo com alguma dificuldade, pois sei que todos temos direito a opinar, mas sei que estou a falar do trabalho de alguém. Por isso, comento abertamente o que penso, mas ressalvando o respeito por todos. Alias, em todas as edições, com “guiões” mais ou menos irónicos e divertidos, tentei fazê-lo.
O programa mudou de logotipo | Foto D.R. |
Continuando a análise, em termos de conteúdos o “Em Família” só piorou. Inicialmente, a génese do programa tinha como objetivo convidar caras da estação. Entretanto, já lá foram todos e o programa recebe histórias de anónimos. Contudo, é tudo muito aleatório, as conversas são curtas e, no meio da confusão, nada se aproveita. Mudanças de visual, receitas culinárias, famosos a circular no estúdio sem tema de conversa, música e até apanhados vemos no formato. Além disso, temos a rubrica social “Ai! Não Me Digas”, assim como comentários ao “Big Brother” – que, entretanto, foram retirados porque o formato perdeu uma hora, fruto das más audiências e deu lugar a “Vai ou Racha” na faixa das 19h00. Nada se interliga, poucos conteúdos são interessantes e, infelizmente, a dupla também não cativa, como escrevi acima.
O “Em Família” está perdido no meio da grelha, entre o “Conta-me”, com conversas interessantes, e o “Vai ou Racha”. Serve para ocupar a tarde e não preocupar os diretores, assim como para dar trabalho a Ruben Rua e Maria Cerqueira Gomes, esta última talvez menos, porque ainda vai tendo outros projetos em horário nobre. A minha sugestão seria acabar com o programa. Iniciar outra fase na TVI, poderia sim ser um talk show, mas algo com “pés e cabeça”. Para começar, aos sábados de manhã nem faz muito sentido o “Dois às 10” ter outra dupla: ou continuam a gravar o programa com o Cláudio Ramos e a Maria Botelho Moniz, ou criem algo diferente e com outro nome. Temos o Idevor Mendonça que poderia formar uma interessante dupla com a Maria Cerqueira Gomes para as tardes de sábado e, quem sabe, trazer a anfitriã de “volta à terra”.
As audiências do “Em Família” andam na corda bamba. Ninguém está em família a assistir ao formato e a SIC tem-se destacado com as emissões do “Olhá SIC!” durante a tarde, assim como a RTP1 com o “Estrelas ao Sábado”. A TVI tem de agir, antes que perca de vez a oportunidade de liderar na faixa.
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