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"Segunda Opinião" #253- "Morangos com Açúcar": Geração dados móveis ligados

Estreada a 29 de setembro de 2014, "Segunda Opinião" é uma rubrica onde todas as semanas é abordado um assunto do mundo televisivo.

A TVI decidiu voltar às plantações de morangos, desta vez em parceria com a Prime Vídeo, uma vez que o adubo está caro. Estreou assim no passado dia 23 de outubro a nova temporada de "Morangos com Açúcar", 20 anos depois da primeira. 

Nesta nova série, a premissa continua a ser o Colégio da Barra e os seus alunos, com amores e desamores. Engane-se quem pensou que os "Morangos com Açúcar" iam ser iguais. Não estamos no mesmo ano, os jovens são diferentes e as audiências que plataformas como a Prime Vídeo querem são mais ambiciosas. Recuemos às últimas três temporadas da série, onde o público já se queixava que a série estava diferente - e prova disso foi a temporada nove, que terminou sem glória. Se nessa altura já existiam mudanças, resultantes das novas tecnologias e interesses do público, imaginemos em 2023. 

Além disso, a Prime Vídeo nunca iria fazer uma série com 200 episódios, como muitos espectadores esperavam. É natural que a produção seja emitida apenas uma vez por semana na TVI. O objetivo é que as pessoas vejam a série na plataforma - estamos a falar de um negócio. O que aconteceu para "Morangos com Açúcar" voltar, foi apenas a associação de duas marcas fortes do mercado, que pegaram num produto com um nome também ele forte e o fizeram regressar. A série poderia chamar-se outra coisa qualquer. Mas é "Morangos com Açúcar" precisamente por ser uma marca com impacto junto dos portugueses. 

Quando à história, temos uma jovem, a Olivia (Madalena Aragão), que é pobre e se apaixona pelo rapaz rico, o Miguel (Vicente Gil). Existe uma menina má, a Gabriela (Margarida Corceiro), e o desaparecimento de outra personagem, a Carol (Ana Andrade). Sim, temos semelhanças com "Elite", mas "Morangos com Açúcar" há uns anos foi comparado com produções como "Malhação", do Brasil - a cópia/inspiração sempre existiu na série. Esta não é uma história muito diferente das anteriores temporadas, mas temos um cunho mais intenso e dramático na produção. Algo típico do formato de série atualmente, que nos remete mais uma vez para produções internacionais. Não é uma má premissa, mas claro, é diferente do que o público fiel a 'Morangos' esperava.

Tomás Taborda e Margarida Corceiro nas gravações | Foto D.R.

Em termos de elenco, a TVI abriu um casting para novos talentos e deu-lhes papeis secundários. Madalena Aragão, Beatriz Frazão e Margarida Corceiro surgem em destaque, sendo que as duas primeiras estão bem em termos de prestação. Já Magui, infelizmente não entregou o que esperávamos no primeiro capítulo. Se em "Quero é Viver" interpretou bem a sua personagem, a Rita, aqui, para já, falhou em muitos pormenores. Do restante elenco jovem, notamos alguma inexperiência, mas ao longo da temporada esse fator deve melhorar. Dos nomes antigos, destaca-se pela negativa o regresso do Tomé de "Festa é Festa", perdão, do Simão Navarro, interpretado por Pedro Teixeira. Uma personagem carregada, que não faz jus à sua primeira versão. Matar a Ana Luísa foi uma decisão que deu que falar, mas que em nada acrescentou à produção. Como a própria Claudia Vieira disse, a sua personagem poderia apenas estar "a participar em rallys em Marrocos". Era melhor para a narrativa, mas já sabemos que o fator crime é morte vai acompanhar os novos "Morangos com Açúcar". Rita Pereira e Tiago Castro trazem-nos boas memórias e excelentes interpretações - amadureceram a Soraia e o Crómio, mas continuam com a mesma essência. 

A qualidade da série é visível e, se vermos "Festa é Festa" que dá a seguir, percebemos que a imagem, as cores, os sons são muito melhores. Deste modo, o que falhou foram os diálogos. Uma narrativa a correr, cenas curtas e sem explicação e alguma dificuldade em acompanhar a ação. Por exemplo, temos alunos que procuram uma sala e acabam presos numa arrecadação, sabendo que entraram na arrecadação e não na aula; uma máquina de fumo está nas mãos de um adolescente e é encarado na produção como uma arma letal. Estranho. Poderiam ter investido mais nessas cenas, Prime Vídeo. Ou será que foi ideia da TVI? Temos ainda a questão dos influenciadores e redes sociais, metida "a ferros" para os jovens se identificarem. Calma, estamos na era dos dados móveis ligados, mas não é necessário tudo girar à volta disso. O slogan da temporada é "stories para a vida". Os stories duram apenas 24 horas, nem faz sentido. 

Em termos de audiências, 1 milhão de espectadores na TVI é excelente para o panorama atual. A série deverá ter alguma quebra de audiências, até porque muitos fãs já viram na Prime Vídeo, mas tudo indica que o regresso está a correr como o esperado. O site dedicado à produção, as entrevistas, o programa da TVI ficção ("Morangomania") e tudo o que envolve "Morangos com Açúcar" faz desta a grande aposta da TVI para 2023. Uma aposta que esperemos que mude a forma como os canais privados olham para a ficção e como envolvem o público com os seus produtos.

Por: Filipe Vilhena


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