"Trivialidades" #5- Uma história de violência
Estreada a 02 de novembro de 2022, "Trivialidades" é uma rubrica mensal onde se discutem os mais diversos temas da sociedade. Artur Raposo assina este espaço. |
São três da tarde. Sábado. O sol de inverno irrompe pela Rua das Lavadeiras, endereço que dá lugar a uma das ruas secundárias da cidade, Olhão, neste caso, onde peões deambulam de um lado para outro; fintando as curvas, ruelas e automóveis que, maioritariamente, “desaguam” na Avenida da República.
Num dos muitos recantos, característicos daquela zona da freguesia olhanense, entramos numa porta, que em nada se diferencia de tantas outras: o barulho das máquinas passando junto à pele, contudo, é sinónimo de denúncia.
Encontramo-nos à do “Fábinho”. É assim que carinhosamente nos referimos à barbearia; porventura, pela ligação que muitos dos clientes têm com o Fábio.
Num dos muitos recantos, característicos daquela zona da freguesia olhanense, entramos numa porta, que em nada se diferencia de tantas outras: o barulho das máquinas passando junto à pele, contudo, é sinónimo de denúncia.
Encontramo-nos à do “Fábinho”. É assim que carinhosamente nos referimos à barbearia; porventura, pela ligação que muitos dos clientes têm com o Fábio.
Ligação fortalecida desde o tempo da secundária. Outros, todavia, que o acompanham desde o tempo em que se jogava à bola no campo da lagarta, celebram a vitória do seu negócio como sendo, igualmente, sua.
A sua humildade, característica dos tempos onde se aproveitava cada segundo do intervalo das 10h - a campainha nunca soava na EB 2,3 Dr. Alberto Iria - , faz com que a partilha do sucesso seja, naturalmente, coletiva.
Diga-se de sua justiça, que para muitos o espaço poderia ser conhecido como o do “Andrézinho”, não fosse a “Visual barbers” uma parceria de dois irmãos, contando também com os que não partilham o mesmo sangue; referência ao Gil, o terceiro elemento desta talentosa equação.
(Já me encontro a desviar do motivo que me trouxe aqui… faz parte do processo.)
Num banco de madeira, nesta tarde de fim-de-semana, encontrava-se um rapaz à espera. Calmo, franzino, um observador que facilmente poderia passar despercebido.
Não aparentava ter mais do que 16 anos e, honestamente, ainda hoje não faço ideia de quantos anos faltam para o mesmo atingir a maioridade.
O seu silêncio iria contrapor com os gritos de aflição que provocaria, juntamente com outros jovens, a um imigrante nepalês. A agressão, o ato, a calma e a frieza visceral faz-nos questionar 1000 coisas acerca de pessoas que não conhecemos. O vídeo viralizou.
- Onde estariam os pais? O que faríamos? Se fosse comigo…
O populismo, muitas vezes, peca pela sua falta de assertividade. A mesma que podemos encontrar num ato megalómano e hediondo.
A análise que faço não poderá ter em conta aquilo que desconheço. Não tenho conhecimento acerca dos progenitores, da condição social/económica e da justificativa que não pode existir. Resta-me compreender aqueles que apelam a uma reforma integradora, como aqueles que se focam no castigo; entendo a frustração, indignação e ira.
Castrar os mais fracos é sempre desonroso e revoltante, mesmo que, diariamente, o façamos de várias formas - seja emocionalmente, fisicamente ou até perspetivando uma legitimidade que visa a auto-preservação.
Existe um egoísmo intrínseco na promoção visual da violência, na obtenção de um status e da reputação. O que é nítido afirmar é que para este grupo de pessoas tratava-se de uma experiência de laboratório, um dia no escritório, um meio para atingir um fim.
Será que a alienação no século XXI estará ligada a um processo de desumanização?
Penso que não. A barbárie acompanha-nos desde o início dos tempos. É só mais uma história de violência.
A sua humildade, característica dos tempos onde se aproveitava cada segundo do intervalo das 10h - a campainha nunca soava na EB 2,3 Dr. Alberto Iria - , faz com que a partilha do sucesso seja, naturalmente, coletiva.
Diga-se de sua justiça, que para muitos o espaço poderia ser conhecido como o do “Andrézinho”, não fosse a “Visual barbers” uma parceria de dois irmãos, contando também com os que não partilham o mesmo sangue; referência ao Gil, o terceiro elemento desta talentosa equação.
(Já me encontro a desviar do motivo que me trouxe aqui… faz parte do processo.)
Num banco de madeira, nesta tarde de fim-de-semana, encontrava-se um rapaz à espera. Calmo, franzino, um observador que facilmente poderia passar despercebido.
Não aparentava ter mais do que 16 anos e, honestamente, ainda hoje não faço ideia de quantos anos faltam para o mesmo atingir a maioridade.
O seu silêncio iria contrapor com os gritos de aflição que provocaria, juntamente com outros jovens, a um imigrante nepalês. A agressão, o ato, a calma e a frieza visceral faz-nos questionar 1000 coisas acerca de pessoas que não conhecemos. O vídeo viralizou.
- Onde estariam os pais? O que faríamos? Se fosse comigo…
O populismo, muitas vezes, peca pela sua falta de assertividade. A mesma que podemos encontrar num ato megalómano e hediondo.
A análise que faço não poderá ter em conta aquilo que desconheço. Não tenho conhecimento acerca dos progenitores, da condição social/económica e da justificativa que não pode existir. Resta-me compreender aqueles que apelam a uma reforma integradora, como aqueles que se focam no castigo; entendo a frustração, indignação e ira.
Castrar os mais fracos é sempre desonroso e revoltante, mesmo que, diariamente, o façamos de várias formas - seja emocionalmente, fisicamente ou até perspetivando uma legitimidade que visa a auto-preservação.
Existe um egoísmo intrínseco na promoção visual da violência, na obtenção de um status e da reputação. O que é nítido afirmar é que para este grupo de pessoas tratava-se de uma experiência de laboratório, um dia no escritório, um meio para atingir um fim.
Será que a alienação no século XXI estará ligada a um processo de desumanização?
Penso que não. A barbárie acompanha-nos desde o início dos tempos. É só mais uma história de violência.
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