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"Trivialidades" #4- Um pedido de desculpas: Um texto sobre isto e aquilo

Estreada a 02 de novembro de 2022, "Trivialidades" é uma rubrica mensal onde se discutem os mais diversos temas da sociedade. Artur Raposo assina este espaço.



Eu gostaria de iniciar este texto com um pedido de desculpas. Não era suposto ser este o início da minha reflexão. Tive de voltar atrás. Adaptei-me.

Quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023. Enquanto cruzo uma das principais artérias da cidade de Faro, com uma confiança um tanto excessiva, para alguém que tinha obtido a carta de condução há menos de uma semana, falava, em alta-voz, ao telemóvel com o Filipe Vilhena. Assumia que tinha faltado ao compromisso.

Partilhava as minhas considerações acerca de como tinha gerido o meu tempo; o estágio profissional, as aulas na ETIC, as aulas de condução que antecederam o exame prático de condução. Tudo se tinha verificado, exceto a escrita que não fluiu.

Disse que poderia terminar o texto até ao final da noite, eventualmente, fazendo cumprir a promessa de um episódio trivial lançado, religiosamente, nas primeiras quartas-feiras de cada mês.

Filipe, com uma assertividade que não me livrava da preocupação que sentia, tranquilizou-me, sem que necessariamente o procurasse, acerca do sucedido. Dispondo do seu senso-comum, muito possivelmente oriundo de uma alma mais descomplicada, alertou-me para o risco do contexto em que nos encontrávamos, pudesse, então, se refletir negativamente na escrita.

“A pressa é inimiga da perfeição” - vaticina a alma velha portuguesa. De forma não intencional, trouxe-me uma cisma que pairou comigo nas horas que se seguiram.

O que é que me leva a escrever? O gosto pela escrita parece uma justificação natural, a necessidade de entender e ser entendido. Começo a questionar-me se seria viável colocar metas na exposição das reflexões que teço neste espaço.

O que escrever não só pode, como é, neste caso, um compromisso. Os compromissos acarretam responsabilidades, sendo que na maior parte das ocasiões em que estamos perante um “acordo” desta natureza, somos compelidos a observar a existência de várias partes. Existe um lado desta equação à qual não consigo discernir um rosto e uma forma.

Escrevo para alguém, para os outros, para mim. Todas as hipóteses que chutei desengonçadamente, têm um fundo de verdade. Ou tratar-se-iam de verdades por inteiro.
As outras partes do compromisso. Mais do que expor os devaneios de uma alma intempestiva, anseio por respostas. Escrever faz-me sentir que estou mais perto de atingir.

Um objetivo final? Creio que não. É algo volátil, maleável. Não finda. Há vontade, como também receios.

Poderei cair no risco de ver algo que considero gratificante, genuíno de se tornar algo sem substância e isento de espontaneidade.

Recordo-me de um documentário que me foi mostrado nos tempos de secundária, nas aulas de filosofia, acerca do grupo britânico de rock progressivo, Pink Floyd. Não me recordo do nome do documentário, pelo que aceito que me refiram posteriormente, para que assim possamos discutir acerca do mesmo. Recordo-me, sim, da ideia central da obra.

Cobria o tempo que se seguiu ao lançamento do antológico, majestoso, colossal, universalmente reconhecido, Dark Side of the Moon. Curiosamente, o disco emblemático cumpre este ano meio século. A banda via-se sufocada com a pressão da indústria fonográfica em replicar os álbuns bem-sucedidos, quiçá elevar a fasquia. Sentiam que o amor, o prazer, o espírito livre via-se embrenhado pelo imediatismo pop que corre entre as massas.

Este aspeto existencialista é transversal a todas as artes e ações. Tudo o que tem um emissor e um recetor. O que nos guia inicialmente poderá ser alterado com o eclodir de determinadas circunstâncias. Sempre se verificará. O resultado do que fazemos provoca um efeito que, por sua vez, influenciará a experiência vindoura.

Abracemos a experiência.

Por: Artur Raposo

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