"Segunda Opinião" #224- A gémea muito ceguinha
Estreada a 29 de setembro de 2014, "Segunda Opinião" é uma rubrica onde todas as semanas é abordado um assunto do mundo televisivo. |
Decidi colocar "A gémea muito ceguinha" no título, porque a personagem "Salomé" (Gabriela Barros), é uma das grandes novidades. Depois da gémea boa "Matilde" e da má "Filipa", chega então a reviravolta de uma terceira filha perdida, desta vez ceguinha... ou "muito ceguinha, mas boazinha", como dizem tantas vezes nos episódios. Logo aqui, o argumento de "Pôr do Sol" prova mais uma vez ser imprevisível e uma sátira perfeita da atual ficção. A monotonia das histórias das atuais novelas, foram claramente ironizadas aqui, porque temos o clássico das gémeas, com a diferença de um terceiro elemento. E falando na "Salomé", temos aqui uma das personagens mais divertidas de "Pôr do Sol". A forma como Gabriela Barros chorava e corria no final das cenas dá a qualquer um, vontade de rir. E falando na atriz principal, temos um caso de sucesso. A "Matilde", a "Filipa" e a "ceguinha" têm traços únicos, bem pensados e muito divertidos e isso só é possível, também, pela prestação excelente da atriz. Um desafio triplo, que Gabriela Barros abraçou com tudo. Está de parabéns, por mais uma vez mostrar o seu talento e versatilidade. Enquanto isso, destacou-se novamente nesta temporada Rui Melo, com o seu "Simão", um vilão que tenta ser bonzinho e que nos fascina com a quantidade de copos que parte ao longo dos episódios. A destacar ainda, pela forma como foi construindo a sua "Carla", Susana Blazer, que tem uma personagem que sofre bastante desprezo por parte de todos (uma situação algo dramática), mas que nos faz rir (e até sentir mal), porque tem muita graça ver a forma ingénua como age. Diogo Amaral, Sofia Sá da Bandeira, Marco Delgado, Carla Andrino, António Melo, Manuel Cavaco e Rodrigo Saraiva estiveram em destaque nesta segunda temporada. É até ingrato destacar nomes, quando todos tiveram à altura do desafio.
O elenco da segunda temporada | Foto D.R. |
Nesta nova temporada, todas as personagens começam de forma diferente. "Simão" tenta ser bonzinho, os "Jesus Quisto" procuram um novo estilo musical, "António" (Manuel Cavaco) sai da prisão e há novos elementos que "pintam" o elenco, como as personagens de Lourenço Ortigão, Dalila Carmo, Mafalda Marafusta e Carolina Carvalho. Existe aqui uma tentativa dos autores Manuel Pureza, Henrique Dias e Rui Melo de mostrar um lado diferente de vários núcleos, explorando coisas que ficaram por mostrar na primeira temporada, com mais leveza e confiança - porque sabiam que o produto "Pôr do Sol" tinha resultado. E foi interessante perceber que vários pormenores foram pensados para que a segunda temporada fosse uma "revolução". Certos pormenores de guarda-roupa, cenários e diálogos foram levados a um nível mais extremo e há cenas incríveis - que não quero dar "spoiler", mas que tenho de falar da presença de Pedro Granger. Não me vou alongar, mas os trinta segundos em que aparece, são hilariantes.
Com esta produção, a RTP conseguiu um recorde de visualizações na RTP Play, foi “tendência” do Twitter e viralizou em vários sites, que reproduziam os diálogos das personagens. Em termos de audiências, “Pôr do Sol” nunca se conseguiu impor, mas teve números satisfatórios, que nos mostram que a televisão está a mudar. Os canais, principalmente os privados, devem apostar no online, no diferido e nas redes sociais. Os números divulgados diariamente pela GFK/CAEM mostram apenas uma pequena percentagem de espectadores que assiste a determinado produto. Em Portugal, “Pôr do Sol” voltou a expor que a qualidade e as séries têm futuro. Atualmente, a ficção da SIC e TVI enfrenta uma crise de audiências e aceitação, enquanto a RTP consegue com este e outros produtos destacar-se.
Muitos questionam Manuel Pureza, Henrique Dias e Rui Melo sobre uma terceira temporada. Nenhum deles quer e assim deveria ser. Esta série teve duas temporadas, com um ano de espera, e mostrou como se pode fazer bem e sair pela porta grande. Temos muito “a mania” de esticar os sucessos, até que eles se tornem fracassos de audiências. “Pôr do Sol” deveria acabar aqui. Coisas novas devem surgir, dos três grandes autores, que estão de parabéns.
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