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"Segunda Opinião" #173- "Princípio, Meio e Fim": A aposta certa no sítio errado?

Estreada a 29 de setembro de 2014, "Segunda Opinião" é uma rubrica onde todas as semanas é abordado um assunto do mundo televisivo.
Desconcertante, sem lógica, com muitos palavrões, mas bom. É talvez esta a melhor forma de descrever o novo programa de Bruno Nogueira, que nos transporta para sítios onde nunca fomos em televisão. O formato começa às 00:00 horas, terá 5 episódios, e já sabemos que liderou as audiências, com 495 mil e 900 portugueses. 

Antes de começarmos a avaliar o programa em si, comecemos pela escolha de horário da SIC - que nos vai ajudar a definir o "Princípio, Meio e Fim". Domingo à noite é sempre um dos dias com mais audiências na televisão, assim se vê na SIC e também na concorrência. Contudo, às 00:00 horas é aquela hora a que poucos podem já estar acordados, ainda por cima a um domingo. Por aqui já vemos que a SIC quis apostar num formato diferente e inovador mas não confiou nele. Porquê? Porque o colocou em horário nobre, mas lá no fim. É algo do género: "vais para a faixa mais vista, mas lá no fim da noite, ainda assim não percamos audiências". Com um "Jornal da Noite" a ocupar quase 2 horas, seria necessário Bruno Nogueira chegar tão tarde? E nem é pela linguagem do programa - recomendado a maiores de 16, mas que na estreia, pelo menos, não nos chocou assim tanto. Para existir uma mudança na televisão, onde a SIC tem sido pioneira até, não basta apostar em coisas novas, mas apostar em coisas novas em horários diferentes. Seria tão bom vermos um formato destes a ser transmitido pelas 21:40 horas de sábado, por exemplo, e acabar de vez com a ideia de que há horários mais importantes. Se a ideia não se extinguir, qualquer dia as generalistas concentram a programação toda entre as 19:00 e as 00:00 horas. E como líder, o canal 3 deveria dar o exemplo.

Posto isto, comecemos pelo 'princípio'. Neste programa tudo o que é insólito pode acontecer. Vemos os autores Bruno Nogueira, Salvador Martinha, Filipe Melo e Nuno Markl no processo de criação. São 2 horas apenas e o guião vai ser interpretado com tudo o que os autores decidiram, mesmo os erros. Por norma, num projeto de ficção, os autores são os menos falados e aqui tudo muda e isso poderá ajudar a quebrar algumas barreiras e Portugal pode começar a valorizar mais quem escreve. Durante o processo criativo, sabendo que estão a ser filmados, obviamente há uma interpretação dos 4 para tornar interessante aquele momento e isso foi muito bem passado para o espectador, ainda que a naturalidade estivesse presente. Filipe Melo foi talvez o que pior lidou com as câmaras e percebemos que ele não concordou com o primeiro episódio. Passando para a parte da história, começamos logo com o mote do portal e sexo. E disso resultou um diálogo que durou o episódio todo e que nos causou logo alguma confusão, em como estavam estes temas relacionados. Já sabemos que daqui vão resultar coisas muito fora do que estamos habituados a ver, nomeadamente o momento da fala em branco de Jéssica Athayde. É curioso como um momento de silêncio foi dos mais engraçados para os espectadores.


Foto D.R.

Quanto aos atores, podemos ter aqui um dos melhores núcleos de sempre. A abrir, Albano Jerónimo e Nuno Lopes, atores brilhantes na comédia e na tragédia, com uma carreira que já passou pelo internacional. A juntar a eles, a atriz de teatro Rita Cabaço, que demonstrou uma forma brilhante de interpretar a sua personagem, dando-lhe uma teatralidade e um mistério especial. Sobre Jéssica Athayde, só podemos dizer que é uma atriz brilhante e este papel só vem mostrar um lado seu que não conhecíamos. Na sua passagem pela TVI, fez de vilã, boazinha e até uma personagem marcante nas "Mulheres" (agora em reposição), onde sofria de violência doméstica. O seu talento e experiência em novelas, 'casa' muito bem com os restantes atores. Já Bruno Nogueira, adota um visual muito diferente do seu na hora de gravar, algo misterioso, subtil até anos 80, onde acrescenta também um toque de ironia especial à sua personagem.

Com 6 episódios, este programa será um 'shot' de frescura na televisão portuguesa. Esperemos que a SIC não estique o formato por mais e mais episódios sem lhe dar uma pausa, pois vai acabar por lhe estragar a fórmula. Vermos 6 episódios onde o pano de fundo é um jantar é suficiente, depois é preciso uma pausa e refrescar o cenário, acrescentar ou retirar alguma personagem, etc.

As audiências do "Princípio, Meio e Fim" foram certamente maiores do que as reveladas, porque mais espectadores hoje à tarde ou noite vão espreitar o programa. Concentrar quase 500 mil espectadores às 00:00 horas é muito bom, mas o facto de não ser emitido mais cedo prejudica o formato. Ainda assim, a SIC deverá sempre liderar com esta aposta, uma vez que a TVI não tem uma novidade na faixa. 

Por: Filipe Vilhena

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