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"Segunda Opinião" #171- "Somos Portugal": O problema de fazer igual à concorrência

Estreada a 29 de setembro de 2014, "Segunda Opinião" é uma rubrica onde todas as semanas é abordado um assunto do mundo televisivo.

Este domingo 'renasceu' um novo "Somos Portugal". O formato foi alvo de alterações para conseguir recuperar as audiências que perdeu para a SIC, que emite no mesmo período o "Domingão". Em termos de horários, pelo menos esta semana, o programa perdeu cerca de 20 minutos e começa agora ao mesmo tempo que o rival. Em termos de apresentação, a TVI optou por uma equipa fixa.

Com 10 anos de emissões, o programa já percorreu milhares de quilómetros e já contou com dezenas de rostos na apresentação. Agora, a TVI decidiu apostar em rostos fixos, mas as escolhas surpreenderam. Por um lado, o programa passou oficialmente a ser da Mónica Jardim e do Santiago Lagoá, que são apostas regulares do "Somos Portugal" há muitos anos e mereciam sem dúvida um programa "seu". A dupla funciona bem e comunica de forma muito intimista com o público, algo essencial neste tipo de programa. Transita também para a nova equipa Ben, que está em clara ascensão no canal, e que se poderá mesmo afirmar como apresentador. 

Falemos das novidades. Dos novos nomes, destaca-se a aposta da TVI em Zé Lopes, um jovem apresentador que veio da SIC e que merece claramente esta oportunidade. Com uma personalidade divertida, trouxe na primeira emissão algum nervosismo natural mas a certeza de que foi uma boa escolha e traz várias mensagens: os novos rostos merecem oportunidades e todos os corpos são 'ideais'. Sim, Zé fez várias piadas com o seu peso e para quem está em casa, isso poderá ter ajudado muita gente a normalizar e relativizar os quilinhos que tem a mais. Já Fanny e Ana Arrebentinha são apostas 'perigosas' mas claramente escolhidas pela sua popularidade. Não desfazendo do seu talento (que na primeira emissão poderá ter ficado aquém do esperado) e da merecida oportunidade, o público talvez vá sentir saudades da Marisa Cruz, Isabel Figueira, Inês Gutierrez, Alice Alves, entre outros rostos. Entramos aqui novamente na questão do "elas não são apresentadoras". Verdade. Mas a culpa delas estarem ali não é delas, mas de quem as convidou. Portanto, se há alguém a criticar é a direção. A Fanny e a Ana merecem oportunidades, como tantos outros rostos.

Foto D.R.

Esta nova equipa acaba por se inspirar na do "Domingão", constituída por João Baião, João Paulo Sousa, Raquel Tavares, Débora Monteiro, Fernando Rocha, Luciana Abreu e Emanuel. Aqui também nem todos são apresentadores. Alias, se há algum apresentador neste programa, são os 'Joãos'. E aqui não há muitas críticas. Mas isso não justifica as apostas melhores ou piores da TVI. A realidade é que no primeiro programa, vimos muitos momentos desnecessários e muitas brincadeiras, mas talvez o objetivo do nosso "Somos Portugal" seja esse. 

Na genética do programa não se alterou e os novos rostos não devem ser suficientes para a subida de audiências. O que falta no "Somos Portugal" para o formato subir as audiências? São muitos anos de emissões ao domingo e outras especiais. O programa tem oito horas e na SIC vemos um formato similar, para além do "Aqui Portugal" de sábado da RTP1. O que acontece aos domingos entre o "Domingão" e o "Somos Portugal" em termos de audiências (ora lidero eu, outra lideras tu) está a acontecer nas manhãs e nas tardes de segunda a sexta com os talk shows. E assim será. Se é positivo existir esta competitividade? Sim. Mas porque ela acontece? Porque 'tanto faz' aos espectadores verem um ou outro. Muda o canal, mudam os rostos mas o programa é o mesmo. E nenhum dos dois vai arriscar. É assim a nossa televisão e assim continuará. 

Se há algo a ser feito no "Somos Portugal", é renovar os seus conteúdos. Inserir uma vertente mais cultural, mais reportagens exteriores ou momentos mais intimistas com os cantores. Um novo horário poderia ajudar o programa, quem sabe começar às 16:00 horas e ter antes um outro formato que puxasse as suas audiências. Não desfazendo dos novos rostos, eles não serão suficientes para agarrar mais público. A última emissão teve apenas 620 mil espectadores e foi uma das menos vistas.

Por: Filipe Vilhena

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