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"Segunda Opinião" #169- "All Together Now": Do talento às críticas do público

 

Estreada a 29 de setembro de 2014, "Segunda Opinião" é uma rubrica onde todas as semanas é abordado um assunto do mundo televisivo.

Estreou ontem o maior programa já feito em Portugal. "All Together Now" é o palco de todos os talentos, que serão avaliados por 100 jurados das mais diversas áreas da música. Os concorrentes que sobem a palco tem de conquistar os jurados e fazê-los tocar no botão para a sua cabine se acender de luz. Quem reunir maior votação, senta-se no TOP3 dos mais votados, que se poderá alterar longo da emissão. No final, o mais votado passa para a semifinal. Existe depois um duelo entre os outros dois participantes que constituem o TOP3 e ai, os jurados tem de votar novamente, com a diferença de que a sua cabine não se ilumina e assim em estúdio e em casa ficamos impossibilitados de saber quem venceu até ao último minuto. Quem reunir a maior pontuação do duelo junta-se ao concorrente que se destacou do TOP3. 

"All Together Now" é um formato com uma mecânica semelhante a, por exemplo, "The Voice Portugal", mas a grandiosidade é mesmo o facto de ter 100 jurados a avaliar e um estádio gigantesco. A emissão da estreia trouxe momentos de tensão a cada segundo, principalmente no momento de sabermos quantos jurados se levantaram. Em termos de grupo, vemos personalidades das mais diversas áreas da música lírica, pop, popular, fado, entre outros. O leque é ainda constituído por radialistas, atores, apresentadores, um cozinheiro, um artista de circo, uma drag queen, personalidades do público TVI e até um padre (é sempre bom ter a bênção de Deus para as audiências serem boas!). Através de alguns comentários das redes sociais, o público foi-se queixando que nem todos percebem de música ali. Contudo, esse argumento seria válido se num programa de música com 3 ou 4 jurados, não existisse nenhum cantor. São 100 pessoas a avaliar cantores, é esse o conceito do programa. Seria até secante ter 100 cantores ali nos jurados. O objetivo é que cada jurado represente uma pessoa em casa e é interessante que assim seja. Mas os espectadores, claramente, não entenderam isso. Há uma senhora jurada de 74 anos, cheia de vida, que poderia representar algumas espectadoras e até servir de exemplo de que a vida continua e é uma festa.

No primeiro episódio faltou-nos ver alguns dos jurados. Ouviam-se sempre os mesmos a comentar. Espera-se que nas próximas emissões os diálogos estejam mais divididos, porque às tantas não pareciam 100, mas sim 10 jurados. Talvez essa tenha sido a maior falha da noite. Para além disso, o facto do programa ser gravado e ter uma curta duração, fez a TVI encaixar vários momentos em que mostrava o que ia dar a seguir. Retirados esses apontamentos, o formato reduzia a sua emissão menos 15 minutos. Este talent show não tem uma duração das 21:45 horas até às 00:00 horas para 'tapar' a concorrência da SIC, portanto esta foi a maneira do canal o prolongar mais tempo, para além do "Jornal das 8" terminar perto das 22:00 horas. Mas isso deveria ter sido pensado a priori. A guerra de audiências nunca deixará um programa de domingo ter apenas 01:30 horas de duração. Se pensarmos bem, poucas vezes isso acontece - agora vemos "A Máscara" a contrariar a tendência.

Quanto a Cristina Ferreira, felizmente não aconteceu o que eu esperei enquanto espectador. Ela não é o elemento central do programa, nem teve uma narrativa à sua volta. O receio era de que, como habitualmente, se criasse quase um momento de adoração à apresentadora e mais 'lamechisses' a si associadas. O regresso ao horário nobre foi brilhante. Vimos uma entrada fenomenal e um 'playbackzito' a inaugurar o palco, só para fingir que a Cristina Ferreira canta. Depois disso, a anfitriã só apareceu para falar com os concorrentes e ouvir os jurados, para além dos pequenos comentários que fez durante algumas atuações e que 'apimentaram' a emissão. É a Cristina Ferreira de sempre, goste ou não se goste, com a voz de sempre, as piadas de sempre e o jeito de apresentar de sempre. 

Este programa acaba por ser um talent show 'normal', produzido de forma grandiosa. Foi um passo em Portugal para a afirmação de grandes investimentos em televisão e em pessoas diferentes. São 100 pessoas que estão a representar setores da cultura, muitos deles afetados pela pandemia. Poderá mudar qualquer coisa com o "All Together Now". Nunca se tinham visto artistas de circo num formato, nunca cantores líricos foram jurados de nada. Somos um país pequeno mas com muito talento que passa despercebido. Este programa veio alterar esse paradigma é isso é ótimo. 

À parte das polémicas com a Direção-Geral de Saúde (DGS), a verdade é que em todos os países a televisão continua a acontecer. Em Portugal, por exemplo, tivemos o "Festival da Canção" na mesma. Com testes covid-19 e medidas de desinfeção, está tudo a acontecer em televisão. Comparar o fecho dos cafés, restaurantes e cabeleireiros com este programa e culpar a TVI e a Cristina Ferreira é injusto. A comunicação social é considerada um setor prioritário, pela componente informativa e de entretenimento que tem. Posto isto, o que vão fazer os canais? Parar porque há setores fechados? Porque há fome? Sempre houve fome. As comparações são sempre injustas e o mundo é ele injusto também. A luta não deve ser criticar este programa, mas focar-se na crise que existe. Ir ao vizinho do lado, perguntar se está tudo bem; encomendar comida dos restaurantes locais para os ajudar; partilhar informação real que ajude a consciencializar pessoas para a pandemia. Perdemos o tempo que temos no problema errado. 

Em termos de audiências o formato conseguiu liderar contra "A Máscara", mas perdeu contra o final de "Terra Brava". É cedo para afirmações, mas o "All Together Now" não se mostrou imbatível à primeira vista. "Hell's Kitchen" poderá mexer com a TVI, a não ser que esta continue a provover bem o formato de Cristina Ferreira. 

Por: Filipe Vilhena

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