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"Instantes de Recordar" #55- Quando as luzes se apagam [Especial]


"A morte chega cedo,
Pois breve é toda vida,
O instante é o arremedo,
De uma coisa perdida."
(Fernando Pessoa, "A morte chega cedo")


Este ano mal começou e já tivemos de nos despedir de grandes nomes da nossa cultura. Entre doenças prolongadas e covid-19, já perdemos os atores António Cordeiro, Licínio França, Cecília Guimarães e Adelaide João. Hoje recordamos estes 4 nomes que perdemos num pequeno reavivar da memória para quem nos segue. Seria difícil e tornaria este texto longo colocar mais nomes, mas o DTV recordará sempre que puder, quem nos encheu a alma de cultura. 



A carreira de António Cordeiro começou em 1987, na série "Duarte e Companhia". Podemos dizer que se tornou especialmente conhecido do grande público em 1991, quando protagonizou a série policial "Claxon", no papel de um detetive.

Na sua carreira, fez várias produções de televisão. Em 1996, esteve na série "Filhos do "Vento" e em 2002 divertiu-nos em "A Minha Sogra é uma Bruxa". O ator esteve no elenco de "Ilha dos Amores" (2007), "Perfeito Coração" (2009) e "Cidade Despida" (2010). Nos seus últimos anos, António Cordeiro esteve integrado em várias novelas da SIC, onde se destacam "Laços de Sangue" (2010), "Mar Salgado" (2014) e "Coração D' Ouro" (2016). A sua última aparição foi na telenovela, também da SIC, "Espelho D' Água" (2017).

"O Processo do Rei" (1990), "Os Olhos da Ásia" (1996) e "Índice Médio de Felicidade" (2017) foram alguns dos filmes em que participou. 

 Escreveu o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa: "Lembraremos em especial o seu detetive de ‘Claxon’, bem como todas as personagens que se pareciam muito com ele, idiossincráticas, autoirónicas e empáticas."

O ator faleceu aos 61 anos, depois de em 2017 ser diagnosticado com paralisia supranuclear progressiva, uma doença rara e degenerativa que o foi privando da fala e dos movimentos até estar confinando a uma cama. Como ninguém cala um artista, ficarão para sempre estas palavras para recordar o enorme António Cordeiro. 


Licínio Conceição de Miranda França foi um ator e cantor português. Começou como autor-compositor e intérprete em 1972, no concurso "A Oportunidade". Em 1075 lançou os singles "O Adeus dos Cães Raivosos" e em 1977 "Cantar À Liberdade".

Em 1979, participou no Festival do Illiabum, em Ílhavo, com o conjunto Improviso e como autor de um tema interpretado por Jorge Dias. Gravou ainda um single, acompanhado com o conjunto Espaço 4, que incluía os temas "Rock Do Zé" e "Rock N' Roll À Portuguesa". Em conjunto com o seu colega Manuel Rodrigues, escreveu para outros nomes, como Lúcia e Jorge ("Turma dos Bons") e Stella e Marcela ("Teledisco"). 

Em 1983, acontece a estreia como ator no elenco da versão portuguesa do musical Annie, onde participaram nomes como Nicolau Breyner e Noémia Costa. 

No ano de 1988, fez parte do elenco fixo do programa "Eu Show Nico" e no ano seguinte foi vencedor do III Festival da Canção de Lisboa, organizado pela RDP Antena 1, como autor-compositor e intérprete, conjuntamente com Noémia Costa, da canção "Lisboa Nunca Esquece".

Avançando na sua carreira, e passando para a televisão, fez "Milionários à Força" (2001), "Todo o Tempo do Mundo" (1999) e ainda "Nico D' Obra" (1995). Destaca-se em 1988 a série "Sétimo Guardião", onde interpretava um assaltante. 

"Até já, até sempre Companheiro. Esta é a Nossa Filha, fruto de um Amor Maior de 22 anos. Que somente nós vivemos e mais ninguém. A Nossa Verdade é Nossa é isso que vale. A Nossa Joana Honrou Pai e irá Honrar Mãe os princípios dela são Enormes. Sei que Era a Tua/ Nossa Menina Sempre Presente em verdade e honra. Vai em paz. Deus tratará do resto", escreveu a ex companheira Noémia Costa.


Cecília Guimarães estreou-se com "A Qualquer Hora o Diabo Vem de Pedro Bom", no Teatro da Rua da Fé (1951). Passou ainda pela Companhia Alves da Cunha e Teatro do Gerifalto. No Teatro Experimental do Porto, interpretou "O Crime da Aldeia Velha de Bernardo Santareno".[3] O filme "O Primo Basílio" trouxe-lhe a distinção de "Melhor Actriz" do SNI.

A atriz pertenceu ao elenco da Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro durante vários anos (Teatro Nacional D. Maria II). Trabalhou ainda no Teatro Experimental de Cascais, Companhia de Teatro de Almada, Companhia de Teatro de Braga ou Artistas Unidos.

Em termos de filmes, esteve nas "As Horas de Maria" (1979), "Francisca" (1981), "O Lugar do Morto" (1984), "A Filha" (2003), "Axilas" (2016), "A Canção de Lisboa" (2016) e "Olga Drummond" (2018).

Na televisão fez, entre outras, "A Morgadinha dos Canaviais" (1990), "Cluedo" (1995), "Filhos do Vento" (1997), "Casa da Saudade" (2000) e o "Hotel Cinco Estrelas" (2013).

De forma direta mas sentida, Ruy de Carvalho escreveu: "Até sempre, querida Cecília Guimarães… Estou sem palavras"

Cecília Guimarães faleceu a 2 de fevereiro de 2021, aos 93 anos, vítima de complicações ligadas à covid-19.



Começou como atriz amadora no grupo de teatro da Philips. Estreia-se como actriz de televisão em "Fim de Semana em Madrid" (1960). Na RTP fez peças como "A Intrusa" (1960), "A Castro" (1961), "Eva e Madalena" (1962). Em 1961 fez a peça "O Consultório" no Teatro Nacional D. Maria II.

Ainda em 1962, partiu para Paris para estudar teatro, sendo-lhe atribuída uma bolsa de estudo pela Fundação Calouste Gulbenkian. Trabalhou em várias companhias teatrais francesas e em 1965 regressou a Portugal.

Já na televisão, participou na "Vila Faia" (1982), "Origens" (1983), "Chuva na Areia" (1985) e "A Loja do Camilo" (2000), "Os Batanetes" (2004) e "Aqui Não Há Quem Viva".

Morreu em 3 de fevereiro de 2021, aos 99 anos de idade, vítima da pandemia. Vasco Matos, leitor do DTV e visita assídua da Casa do Artista, privou com a atriz e o DTV recolheu o seu depoimento:

"Passou-se menos do que um par de anos desde a minha última visita aquele que se tornara o lar de quem dedicou anos à arte: Casa do Artista. Aquele caloroso lar onde senti o cheiro dos palcos soprados entre os corredores por um vento cheio de histórias.

Fui até lá num âmbito profissional mas com uma matreira vontade de conhecer aquela mítica realidade do ponto de vista pessoal. O objetivo era eu dar palavras a um projeto fotográfico que focava a vida daqueles utentes com mil e uma histórias, da forma mais natural possível. Após receção calorosa de toda a incansável equipa, utentes e visitantes. Tudo naquela casa era alegria e conforto. Adelaide João seria dos rostos mais sorridentes daquele lugar e logo aceitou a entrevista. Bom, como disse aos “entrevistados” aquilo estava longe de ser uma entrevista seria uma conversa. Eu queria deixá-los de no seu estado mais natural e descontraído. Comecei logo por perceber que Adelaide, não era um nome que lhe saltava ao ouvido (já muito cansado, por sinal) mas sim Lailai. E começou uma conversa que teria em média uns vinte minutos e acabou por esfumar-se em cerca de quatro horas e meia. O quente da sua mão ficou sobre a minha, ao ponto de a meio da conversa já não distinguir as mãos. Pragmática e com um feitio deliciosamente desviado, Lailai esqueceu a idade que tinha. Quando lhe perguntei pela data de nascimento ela respondeu-se um rotundo: “Não sei, filho! Uns 92? Sei que já fiz 90. Mas isso não interessa para nada”. Prossegui com a conversa e de resto não se colocou na mesa de café da sala de visitas da Casa do Artista, qualquer tabu ou assunto proibido. Sexo, amores, desamores, suspiros, lágrimas e muitas gargalhadas. Foi assim a conversa que espelhava o que teriam sido aqueles (reais) 97 anos de vida. Um percurso que começou logo tropeçado já que trabalhava na Phillips e decidiu juntar-se ao grupo amador de teatro da marca e conquistou toda a gente. Até no seu nome artístico ela assinou o seu pragmatismo. Esta senhora de riso franco de quem conhecemos o rosto, chama-se na verdade Maria da Glória mas na altura de tornar mais brilhante o nome e sem ideias de melhor, adotou o nome da mãe: Adelaide e o nome do pai: João. Ficou Adelaide João.

Partiu com muitas e belas primaveras vividas, neste penoso Outono que vivemos pelos ventos desta pandemia. Naquelas imensas horas que falamos, vi nos seus olhos todos os grandes artistas com quem trabalhara. Desde Manoel de Oliveira a José Fonseca e Costa. Aqueles pés cruzados encostados ao sofá, foram os pés que pisaram os palcos de Paris onde estudou teatro. Uma atriz mais do que completa, plena e ciente dos seus defeitos enquanto atriz e mulher. Em meu nome e certamente em nome do teatro português, encerremos com o som dos deuses dos artistas, um grande aplauso.

A si, Lailai"


Por: Filipe Vilhena/Vasco Matos
Agradecimento: Vasco Matos

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NOTA DE REDAÇÃO: No dia 16 de fevereiro de 2021 faleceu a atriz Carmen Dolores. Á data de termino desta publicação, a sua morte ainda não tinha ocorrido. O DTV pretende, noutro momento, dedicar-lhe uma homenagem, mas, até por questões de caracteres deste texto, não foi possível fazê-lo agora. 
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