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"Segunda Opinião" #134- Será "3 Mulheres" um sucesso de serviço público?

Estreada a 29 de setembro de 2014, "Segunda Opinião" é uma parceria com o site Fantastic Televisão, onde todas as semanas é abordado um assunto do mundo televisivo.

A nova série da RTP surge a partir das biografias e da intervenção cultural e cívica da escritora Natália Correia, da editora Snu Abecassis e da jornalista Vera Lagoa (pseudónimo de Maria Armanda Falcão). 3 Mulheres é a nova aposta da estação pública, é produzida pela David & Golias, e é, possivelmente, uma das melhores séries de época dos últimos anos, em Portugal.

A história de "3 Mulheres" passa-se nos últimos anos do Estado Novo entre 1961 e 1973, do início da Guerra Colonial à véspera da Revolução de Abril. A vida, a história e os percursos cruzados das três mulheres protagonistas dão o mote à trama realizada por Fernando Vendrell e escrita por Luís Alvarães e Maria de Fátima Ribeiro.

Em "3 Mulheres", a “História” faz parte da história, mas as tensões dramáticas são, também estas, particularmente interessantes. A narrativa desenvolve-se de forma a conhecermos as personagens. Estas não são meramente planas. Temos tempo para conhecer as intenções de cada uma, há o tempo certo para ficarmos a saber de onde é que ela veio e para onde vai. Os factos históricos são envolvidos na ação de forma realista e natural e, no todo, acabamos por assistir a uma série de ficção muito credível e empolgante.

A produção apresenta-nos também um elenco de luxo, composto por caras bem conhecidas dos portugueses, a começar pelas protagonistas. Maria João Bastos, Victória Guerra e Soraia Chaves parecem ser as escolhas certas para interpretar os três grandes pilares de uma história onde as mulheres assumem particular importância. Afonso Lagarto, João Jesus e Fernando Luís são o outro lado dessas três personagens, ao interpretar os respetivos maridos.

Mas é também nos jovens talentos, desconhecidos para muitos dos espetadores, que se encontram alguns dos maiores destaques de "3 Mulheres". Dois exemplos desta nova geração de atores que merecem atenção são Iris Cayatte e Rita Cabaço. As duas atrizes, habituadas a brilhar em trabalhos no cinema e em teatro, provam em 3 Mulheres que todos os papéis são importantes numa história.

É certo que Iris Cayatte já fez parte do elenco de telenovelas como Belmonte ou Amor Maior, mas é no cinema que até agora tinha mostrado realmente o que valia. Em "3 Mulheres", regressa à televisão no papel de Margarida Tengarrinha, a irmã de José Manuel (Afonso Lagarto).

O caso de Rita Cabaço é diferente. A atriz destacou-se no início de 2018, depois de vencer os Prémios Autor e o Globo de Ouro para melhor atriz de teatro, pelo papel na peça A Estupidez, de Rafael Spregelburd. Na sua estreia em televisão, Rita é a criada Belinha, um papel secundário para a trama, mas que ganha uma maior dimensão com a interpretação da atriz.

Do elenco secundário mais jovem, destaque ainda para nomes como Isac Graça, João Arrais João Pedro Dantas, Nídia Roque, Nuno Casanovas, Rodrigo Tomás ou Sérgio Coragem.

É recorrente a ideia de que um produto televisivo que se aproxime da linguagem cinematográfica acaba por ter uma qualidade superior – seja pela fotografia, pela realização ou até pelo argumento e estrutura da narrativa. Em "3 Mulheres, estas várias vertentes fundem-se de uma forma harmoniosa, não havendo qualquer tipo de pretensiosismo para que uma se destaque.

Isto é, tecnicamente 3 Mulheres resulta muito bem – a fotografia de é acertada, a realização de consegue trazer alguma novidade ao que se faz (destaque para o plano final do primeiro episódio, em que Maria Armanda Falcão é abordada, em casa, pelo agente da PIDE) – mas a história é também fundamental para nos prender ao pequeno ecrã.

"3 Mulheres" não será um sucesso de audiência – porque a tendência nunca será essa – mas será, certamente, um marco positivo no que se faz na ficção nacional. Se serviço público deve ser sinónimo de qualidade e alternativa, a RTP está de parabéns pela aposta numa série como esta.

Por: André Pereira (Fantastic TV)
Uma rubrica com a parceria "Fantastic Televisão"    

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