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"Livro de Estante" #4 | "Silêncio", de Shusaku Endo



Autor(a): Shusaku Endo
Título Original: Chinmoku (1966)
Editora: D. Quixote
Páginas: 270
ISBN: 9789722041355
Tradutor: José David Antunes

SOBRE O AUTOR:

Shusaku Endo, batizado aos 12 anos, segundo os atos da fé católica, desde cedo se interessou por compreender qual a influência da fé cristã no povo japonês. Visitou em vida diversas vezes Sotome, uma pequena cidade escondida por detrás das montanhas de Nagasaki, fortemente coligada à tradição e religião cristã, portanto, grande parte da sua vivência foi dedicada a esta investigação.

Endo sentia uma grande afinidade com a Judas, pois ele mesmo se sentia Judas. Aos 10 anos, descobriu que o seu pai tinha uma amante. Protegeu o segredo, mas, no entanto, sentia como se também ele estivesse a trair a mãe. Por isso, desenvolveu uma espécie de complexo com a salvação de Judas.

SINOPSE:

“Silêncio, cuja ação decorre no século XVII, conta-nos a história de um missionário português envolvido na aventura espiritual da conversão dos povos orientais, o qual acaba por apostar, após ter sido sujeito às mais abomináveis pressões das autoridades japonesas, para evitar que um grupo de fiéis seja por ordem delas torturado até à morte.

Antes de chegar ao Japão, a sua viagem leva-o a Goa, depois a Macau e, finalmente, a Nagasáqui e Edo, em etapas que pouco a pouco o transportam a esse Oriente hostil, onde, no entanto já se contam alguns milhares de convertidos à fé católica.

Aí descobre, na luta contra as pessoas e o ambiente adversos, a verdadeira fé, liberta de todo o aparato externo, eclesiástico ou mundano. E aí acaba por experimentar a derradeira solidão, que é o destino daqueles que quebram a comunhão com o que mais profundamente marca a sua identidade.”

Sabia da existência desta história graças ao filme de Martin Scorsese e, mesmo assim, ouvi falar dela por alto, não o tinha chegado a ver. Acabei a encontrar-me com o livro este ano, na Universidade, precisei de o ler para fazer uma recensão crítica. Não era a minha primeira escolha de leitura, mas ainda bem que o li.

Não sou muito fã do tema “religião”, talvez por não acreditar em qualquer tipo de Deus ou ser “superior”, então, de inicio, fiquei meio relutante com este tema, tenho a tendência a sentir-me aborrecida com este tipo de temas. Mas até que me surpreendi com este livro. 

A história, que se passa em Nagasaki, retrata uma altura em que o cristianismo era repudiado, em que os cristãos eram obrigados a apostar a sua fé, ou seja, a renegar as suas crenças. Começa com a partida de Sebastião Rodrigues, Francisco Garpe e João Marta (missionários portugueses) para Nagasaki à procura do seu mestre Cristóvão Ferreira. Em forma de cartas enviadas à diocese, Rodrigues explica o seu dia-a-dia nesta viagem até à chegada. Nas suas palavras, é notável as boas expetativas que tem em relação á sua missão de espalhar a palavra de Deus pelas aldeias e encontrar Ferreira. A partir do meio do livro, mais ou menos, o narrador passa a ser outro, mais frio, que apenas descreve as situações, sem a emoção de Rodrigues.

"Silêncio" faz nascer mais questões do que responde. É um convite para o leitor se envolver num momento histórico com rara abordagem e numa discussão sobre o que realmente é acreditar. Ao narrar esta história, o autor chama o leitor a fazer um olhar sobre si mesmo. No decurso da leitura da obra constata-se que existem pelo menos três tipos de silêncios: um com maior percetibilidade, o de Deus perante as preces dos Homens, e os restantes mais ocultos, o dos japoneses cristãos com a sua própria fé em benefício da sua sobrevivência, e aquele que pode ser interpretado fora do contexto religioso de forma universal retratado na personagem Rodrigues.

A maior mensagem que este livro passa é a seguinte: apesar de por vezes não pudermos falar, o pensamento, esse, ninguém o pode calar. Concluindo é abordado: um choque de culturas, representado entre os padres e a cultura oriental e um Japão que impede o crescimento das raízes da fé cristã.

Aquando da visualização do filme, podemos compreender alguns aspetos que não são tão perceptíveis quando lemos a obra. A característica que deu um grande impacto foi a ausência de som durante o filme inteiro, o que ajuda a entender o significado de “silêncio” de uma maneira mais profunda. Recomendo vivamente a leitura, mesmo que não se tenham, crenças religiosas, porque, no fundo, não se trata de uma reflexão apenas teológica, mas também do nosso viver, em todos os aspetos.

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Por: Raquel Branco com Catarina Cunha, David Santos, Jessica Palmeiro e Matilde Dias

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