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"Diário da TV" #19 | O papel da rádio e televisão no 25 de abril


Apesar de 1974 a rádio ainda se encontrar em difusão, a verdade é que foi um meio crucial para o êxito do 25 de abril e implantação da liberdade em Portugal. Com a televisão a ser uma novidade para muitos portugueses- e um bem de elevado valor, que só era possuído por famílias de bens ou estabelecimentos públicos (cafés e restaurantes)- a companhia da rádio constituía ainda a preferência de entretenimentos dos espectadores, que por lá ouviam as musicas, programas de entretimento e as noticias.

Foi no dia 24 de abril, pouco depois das 23 horas, que passava na rádio a musica “E Depois do Adeus”, da autoria de Paulo de Carvalho. A canção serviu de senha para o avanço das tropas portuguesas à rua e inicio da Revolução dos Cravos. A letra da musica passava ao lado das forças de censura e, portanto, não levantaria suspeitas.

A canção de José Afonso- “Grândola, Vila Morena”- iniciou o golpe de estado, já a 25 de abril de 1974. A letra da musica estava censurada pelo regime e proibida de passar nas rádios por fazer alusão ao comunismo. Os militares portugueses assumiram depois o controlo da Rádio Clube Português e transformaram a emissora no posto de comando da revolução, difundindo os ideais de liberdade por toda a população que sintonizava a antena.

A rádio foi desta forma utilizada como meio de difusão da informação e, pela primeira vez, apoderava-se de conceitos como liberdade de expressão. O facto de estar presente na casa de todos os portugueses ajudou à rápida união do país para derrubar o Estado Novo, que durava há 40 anos.

Com a Revolução de Abril, provou-se mais uma vez a influência que os meios de comunicação social detém sobre os cidadãos e a velocidade com que a se dá a disseminação de valores sociais e culturais. Os media produzem assim a capacidade de formar grupos e implementar determinadas ideias, ajudando os indivíduos a formar opiniões, promover mudanças e ditar determinados comportamentos.

Depois da revolução de abril as rádios de todo o país passaram a ser livres. A ditadura de cerca de 40 anos de Salazar e Marcelo Caetano era agora passado e em tom de comemoração as emissoras transmitiam constantemente a musica “Grândola, Vila Morena”.

Após o final do 25 de abril , verificou-se um “boom” da rádio e televisão, condicionado pelo nascimento da liberdade de expressão e opinião e aumento das forças partidárias, que utilizam cada vez mais estes meios para promover as suas campanhas eleitorais. O pós-Revolução permitiu o aparecimento e difusão de novos partidos através do “direito de antena”.

As antenas de rádio e a RTP1 e RTP2 detinham agora mais liberdade para criarem conteúdos, apesar dos canais televisivos continuarem a pertencer ao Estado e a manterem-se obrigados a cumprir os acordos. Já os jornais eram agora livres de fazerem títulos com as palavras “liberdade”, “povo”, “união” ou “democracia”, palavras censuradas pelo Estado Novo. Os canais ao abrigo do Estado eram financiados por este e deviam promover a cultura através da emissão de documentários, programas em direto e privilegiar a informação; o tempo dado a cada partido devia ser semelhante. Eram estas as principais condicionantes dos canais públicos, onde a RTP1 passou a assumir um carácter mais generalista e a RTP2, que nasceu em 1968- ainda em regime ditatorial- se constituiu como uma estação alternativa que dava voz à sociedade civil e a todas as formas de arte, espetáculo e desporto.

Por: Filipe Vilhena com Catarina Cunha, Fábio Coelho, Raquel Branco, Rita Afonso e Tomás Raimundo

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