Polémica: Ator José Mayer acusado de assédio. TV Globo já o suspendeu!
Na sexta-feira passada José Mayer foi acusado de assédio sexual pela figurinista da TV Globo Susllem Tonani, onde ela confessa que o ator a chegou inclusivamente a chamar de "vaca".
A figurinista quebrou o silêncio agora e declarou na Folha de S. Paulo:
"Eu, Susllem Meneguzzi Tonani, fui
assediada por José Mayer Drumond. Tenho 28 anos, sou uma mulher branca,
bonita, alta. Há cinco anos vim morar no Rio de Janeiro, em busca do meu
sonho: ser figurinista.
Qual mulher nunca levou uma cantada? Qual mulher nunca foi oprimida a rotular a violência do assédio como "brincadeira"? A primeira "brincadeira" de José Mayer Drumond comigo foi há 8 meses. Ele era protagonista da primeira novela em que eu trabalhava como figurinista assistente. E essa história de violência se iniciou com o simples: “como você é bonita”. Trabalhando de segunda a sábado, lidar com José Mayer era rotineiro. E com ele vinham seus “elogios”. Do “como você se veste bem”, logo eu estava ouvindo: "como a sua cintura é fina", "fico olhando a sua bundinha e imaginando seu peitinho", "você nunca vai dar para mim?".
Quantas vezes tivemos e teremos que
nos sentir despidas pelo olhar de um homem, e ainda assim – ou por isso
mesmo – sentir medo de gritar e parecer loucas? Quantas vezes teremos
que ouvir, inclusive de outras mulheres: “ai que exagero! Foi só uma
piada”. Quantas vezes vamos deixar passar, constrangidas e enojadas,
essas ações machistas, elitistas, sexistas e maldosas?
Foram
meses envergonhada, sem graça, de sorrisos encabulados. Disse a ele,
com palavras exatas e claras, que não queria, que ele não podia me
tocar, que se ele me encostasse a mão eu iria ao RH. Foram meses saindo
de perto. Uma vez lhe disse: “você é mais velho que o meu pai. Você tem
uma filha da minha idade. Você gostaria que alguém tratasse assim a sua
filha?”
A opressão é aquela
que nos engana e naturaliza o absurdo. Transforma tudo em aceitável, em
tolerável, em normal. A vaidade é aquela que faz o outro crer na falta
de limite, no estrelato, no poder e na impunidade. Quantas vezes teremos
que pedir para não sermos sexualizadas em nosso local de trabalho? Até
quando teremos que ir às ruas, ao departamento de RH ou à ouvidoria
pedir respeito?
Em fevereiro
de 2017, dentro do camarim da empresa, na presença de outras duas
mulheres, esse ator, branco, rico, de 67 anos, que fez fama como
garanhão, colocou a mão esquerda na minha genitália. Sim, ele colocou a
mão na minha buceta e ainda disse que esse era seu desejo antigo. Elas?
Elas, que poderiam estar no meu lugar, não ficaram constrangidas.
Chegaram até a rir de sua “piada”. Eu? Eu me vi só, desprotegida,
encurralada, ridicularizada, inferiorizada, invisível. Senti desespero,
nojo, arrependimento de estar ali. Não havia cumplicidade, sororidade.
Mas segui na engrenagem, no mecanismo subserviente.
Nos próximos dias, fui trabalhar rezando para não encontrá-lo. Tentando driblar sua presença para poder seguir. O trabalho dos meus sonhos tinha virado um pesadelo. E para me segurar eu imaginava que, depois da mão na buceta, nada de pior poderia acontecer. Aquilo já era de longe a coisa mais distante da sanidade que eu tinha vivido.
Até
que nos vimos, ele e eu, num set de filmagem com 30 pessoas. Ele no
centro, sob os refletores, no cenário, câmeras apontadas para si,
prestes a dizer seu texto de protagonista. Neste momento, sem medo,
ameaçou me tocar novamente se eu continuasse a não falar com ele. E eu
não silenciei.
“VACA”, ele gritou. Para quem quisesse ouvir. Não teve medo. E por que teria, mesmo?
Chega.
Acusei o santo, o milagre e a igreja. Procurei quem me colocou ali. Fui
ao RH. Liguei para a ouvidoria. Fui ao departamento que cuida dos
atores. Acessei todas as pessoas, todas as instâncias, contei sobre o
assédio moral e sexual que há meses eu vinha sofrendo. Contei que tudo
escalou e eu não conseguia encontrar mais motivos, forças para estar
ali. A empresa reconheceu a gravidade do acontecimento e prometeu tomar
as medidas necessárias. Me pergunto: quais serão as medidas? Que lei
fará justiça e irá reger a punição? Que me protegerá e como?
Sinto
no peito uma culpa imensa por não ter tomado medidas sérias e árduas
antes, sinto um arrependimento violento por ter me calado, me odeio por
todas as vezes em que, constrangida, lidei com o assédio com um sorriso
amarelo. E, principalmente, me sinto oprimida por não ter gritado só
porque estava em meu local de trabalho. Dá medo, sabia? Porque a gente
acha que o ator renomado, 30 e tantos papéis, garanhão da ficção com
contrato assinado, vai seguir impassível, porque assim lhe permitem,
produto de ouro, prata da casa. E eu, engrenagem, mulher, paga por obra,
sou quem leva a fama de oportunista. E se acharem que eu dei mole? Será
que vão me contratar outra vez?
Tenho
de repetir o mantra: a culpa não foi minha. A culpa nunca é da vítima. E
me sentiria eternamente culpada se não falasse. Precisamos falar.
Precisamos mudar a engrenagem.
Não
quero mais ser encurralada, não quero mais me sentir inferior, não
quero me sentir mais bicho e muito menos uma “vaca”. Não quero ser
invisível se não estiver atendendo aos desejos de um homem.
Falo
em meu nome e acuso o nome dele para que fique claro, que não haja
dúvidas. Para que não seja mais fofoca. Que entendam que é abusivo, é
antigo, não é brincadeira, é coronelismo, é machismo, é errado. É crime.
Entendam que não irei me calar e me afastar por medo. Digo isso a ele e
a todos e todas que, como ele, homem ou mulher, pensem diferente. Que
entendam que não passarão. E o que o meu assédio não vai ser embrulho de
peixe. Vai é embrulhar o estômago de todos vocês por muito, muito
tempo."
O caso viralizou um pouco por todo o mundo e foi criada uma onda de solidariedade no meio artístico com a campanha «Mexeu com uma Mexeu com tod@s».
A TV Globo já falou sobre o caso, numa declaração onde diz que «repudia toda e qualquer forma de desrespeito, violência ou preconceito. E que zela para que as relações entre funcionários e colaboradores se deem em um ambiente de harmonia de acordo com o Código de Ética e Conduta do Grupo Globo.».
A emissora mostra-se assim visada com o caso de assédio e admite que «lamenta que Susllen Tonani tenha vivido essa situação inaceitável num ambiente que a emissora se esforça cotidianamente para que seja de absoluto respeito e profissionalismo. E, por essa razão, pede a ela sinceras desculpas.».
O ator José Mayer fica assim suspenso por tempo indeterminado da representação. Não se sabe ainda se vai sofrer represálias na justiça.
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